“Homem não chora”: risco para a saúde mental

“Homem não chora”: risco para a saúde mental

Christiane Bôa Viagem, jornalista

No início de novembro, falamos aqui sobre o comportamento masculino de não cuidar da própria saúde. O estigma social de ser o “sexo forte” e a pressão que os homens sofrem para se manterem assim contribuem para impedir que eles olhem para suas próprias fraquezas e vulnerabilidades, inviabilizando o autocuidado. 

Para promover a melhoria das condições de saúde da população masculina, foi instituída no âmbito do SUS, em 2009 pelo Ministério da Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) que visa proporcionar o acesso a serviços de saúde abrangentes e ações preventivas, além de buscar reconhecer e respeitar as diversas manifestações da masculinidade. O PNAISH é uma iniciativa que visa também romper com a cultura de que o cuidado com a saúde é uma dimensão do feminino. Abre-se, assim, um acolhimento, trazendo o homem para a cena como sujeito a partir de suas vulnerabilidades. O Brasil é o único país da América Latina com este tipo de política de saúde.

Além do cuidado com a saúde física, é importante prezar também pela saúde mental do homem, ainda mais relegada. A expressão “homem não chora” – até agora usada na educação dos meninos – constrói a ideia de que o homem não pode apresentar fragilidade nem demonstrar suas emoções. É quase um padrão cultural de sufocamento dos sentimentos que pode contribuir com comportamentos destrutivos e transtornos psicóticos.  Muitos homens aprendem a ignorar os próprios sentimentos, tornando-se incapazes de lidar com eles quando surgem. Também não se abrem nem falam sobre seus problemas e sofrimentos que, muitas vezes, vêm à tona de outras formas e a violência é uma delas.

 

Esse processo de repressão emocional pode levar ao uso excessivo de álcool e drogas ilícitas. É um comportamento que pode causar inúmeros prejuízos ao próprio homem, a sua família e a sociedade, podendo levá-lo a resolução de conflitos de forma violenta.

Outros fatores podem afetar o sofrimento dos homens como disfunções sexuais que atingem diretamente a autoestima. Muitos deles postergam buscar ajuda especializada, o que favorece o aparecimento de complicações mentais e sofrimento psíquico. Desemprego e aposentadoria também são fatores que podem causar angústia, por não se sentirem úteis, sem função social. Surgem pensamentos de desesperança que contribuem para o adoecimento psíquico.

O diagnóstico de doenças graves também pode contribuir para um declínio da saúde mental. Muitas vezes o homem não percebe ou não expõe seu adoecimento psíquico. Então, é preciso dizer a ele, sensibilizá-lo para o diálogo. Ao perceber o abandono das relações, da rotina e identificar os sintomas como insônia, irritabilidade, isolamento, quadros de depressão, ansiedade, pânico, é a hora de conversar com ele. É numa conversa séria que o familiar ou amigo consegue mostrar para o homem a necessidade de uma consulta de avaliação. A terapia com um psicólogo faz parte do remédio para prevenir adoecimentos graves. Por isso, precisamos desconstruir a ideia de que o cuidado com a saúde é algo feminino ou que homens se tornam fracos e covardes quando expressam sentimentos, pois somente encarando isso é que será possível que homens desenvolvam formas mais saudáveis de lidar com os próprios sentimentos, deixando de ser a violência uma possibilidade de expressão.

Fontes:

Coelho, E.B.S. et. al. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_integral_saude_homem.pdf 

Andrade, Arthur. A importância de falar sobre a saúde mental do homem. Disponível em: https://www.telavita.com.br/blog/saude-mental-homem/

Dados apontam maior risco de mortalidade por doenças crônicas na população masculina. Disponível em: https://aps.saude.gov.br/noticia/18058 

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(SIMON, 2009)

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